Entenda como a fantasia, o audiovisual e a literatura influenciam na formação infanto-juvenil
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Um estudo realizado pelo Instituto NeuroSaber mostra que contos e desenhos infantis ajudam crianças na construção de valores e comportamento diante da sociedade. Por isso é tão importante que elas se vejam representadas nessas produções.
De acordo com a psicóloga especialista em inteligência parental, Nanda Perim, “o imaginário é a capacidade que a criança tem, ainda sem conhecer bem o mundo, de acreditar que absolutamente tudo é possível”.
A psicóloga destaca que para crianças as negras esse desenvolvimento e descoberta de representatividade nos contos alimenta o imaginário infantil.
E esse desenvolvimento acontece por meio de 4 estágios e com diferentes faixas de idade.
O primeiro deles é o estágio sensório-motor, do nascimento até cerca de 2 anos, quando as crianças descobrem o mundo por meio de sentidos, manipulação de objetos e começa a entender seu próprio corpo.
Enquanto no estágio pré-operacional, de 2 a 7 anos, elas desenvolvem a memória e a imaginação. Além de entenderem simbolicamente as coisas e as ideias do passado e do futuro.
E é sobre esse estágio que destaca-se a importância para a construção da formação infanto-juvenil baseando-se, também, em representações em contos, desenhos e literatura.
“Os contos de fada entram numa idade em que a criança está organizando o mundo mentalmente e são figuras nas quais ela se baseia para formar opiniões, concretizar conceitos abstratos e categorizar o mundo.” - Nanda Perim, psicóloga e especialista em Inteligência Parental
As crianças desenvolvem habilidades de mais consciência de eventos externos e sentimentos dos outros no terceiro estágio de desenvolvimento, o operacional concreto, de 7 a 11 anos.
E ainda são capazes de usar a lógica e planejar o futuro a partir dos 11 anos, no quarto estágio.
Sabe-se que a grande maioria das histórias infantis não trazem personagens negros ou muito menos protagonistas, e isso pode fazer a diferença. “Quando as histórias e os contos incluem personagens negros trazem referência e admiração desde bem cedo”, afirma Nanda.
Uma das histórias mais famosas entre as crianças é A Pequena Sereia, lançado em 1989 pela Disney. E este conto foi representado aqui no Brasil como ‘A Pequena Sereia da Disney – O Musical’, com uma superprodução, ultrapassando a marca de 60 mil pessoas que foram ao teatro.
Este musical marca além do sucesso de público, uma produção de elenco com dois protagonistas antológicos negros e outros bailarinos e atores. Os atores Gabriel Vicente e Robson Nunes falaram em entrevista à CNN sobre o que significou para ambos representarem estes personagens para crianças e jovens adultos negros que resgataram suas memórias e ainda, puderam se ver no espetáculo.
“Eu quando vejo uma criança vendo o Gabriel como príncipe, me vendo Sebastião, vendo Tiago e Amanda ali como bailarinos, atores cantando é de uma importância muito grande e eu digo isso porque eu não tive, então eu sei, o que é minha filha assistir um espetáculo onde ela se enxerga.” - Robson Nunes, ator
Para Robson, apenas o fato de querer ser ator era um absurdo, era difícil se ver e se imaginar. “Era impensável fazer um príncipe, fazer um outro personagem com destaque um pouco maior numa trama”.
Outra questão que o ator traz é sobre autoestima, “eu acho importante que que não só o as crianças negras, se identifiquem e se acham bonitas como também a nossa beleza seja enxergada por outras pessoas”. “Eu acho que a autoestima do nosso povo é fundamental para essa mudança.”
Gabriel que interpretou o Príncipe Eric, destaca que ao longo das apresentações percebe a identificação do público e principalmente das crianças para com ele. “A criança não sabe né politicamente exatamente o que tá acontecendo ali, a importância, mas é exatamente nelas que eu gosto de ver como como isso é importante”, afirma o ator.
“É um brilho diferente, é um abraço diferente que te dá. Você nota que tocou de uma maneira nova ela e você proporciona ela a chance de sonhar.” - Gabriel Vicente, ator
O ator questiona quanto tempo demorou para essa mudança acontecer no mundo infantil, lembrando que em sua infância todos os personagens eram muito parecidos, e ao mesmo tempo muito distintos dele próprio. “A gente gerando essa representatividade também me dá uma esperança de proporcionar a essas crianças a chance de se verem como artistas”.
O diretor de cinema e teatro, e escritor, Rodrigo França, reforça a importância destes lugares de protagonismo serem ocupados por pessoas negras, mas enfatiza que não se deve focar apenas em quem aparece para o público, toda a produção e direção de um projeto, como um musical, é importante para a construção da história e de qual mensagem quer passar ao público.
“Assim a gente tá falando sobre cultura, sobre entendimento. Só pode falar quem está dentro porque você não vai errar ou vai fazer como a gente vem fazendo aí ao longo de séculos desse país.” - Rodrigo França, diretor de teatro, cinema e escritor
E destaca, “Não existir uma representatividade plural, faz com que tudo aquilo que é positivo seja universalizado para o branco”.
Rodrigo é autor do livro ‘O Pequeno Príncipe Preto’, que conta a história de um menino que se ama, ama sua cultura e seus traços e tem consciência de onde vem e para onde quer ir.
“O Pequeno Príncipe Preto começa com uma inquietação no teatro sobre a não existência de personagens para crianças negras, para meninos negros em especial”, afirma Rodrigo.
A obra é dedicada às crianças negras, para que se inspirem e se enxerguem, também na literatura.
Por Duda Lopes
fonte: CNN
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