Fitch Ratings elevou a nota de crédito do Brasil de “BB-” para “BB” referente à classificação de risco do país, com perspectiva estável
A reclassificação de risco da Fitch Ratings que elevou de “BB-” para “BB” a nota de crédito do Brasil nesta quarta-feira (26), com perspectiva em estável, coloca em discussão as políticas econômicas implementadas pelo governo federal neste ano.
Economistas consultados pela CNN destacam a influência das reformas setoriais que vêm contribuindo com a redução dos gastos públicos e a recuperação mais rápida da economia após a crise sanitária que prejudicou as finanças entre 2021 e 2022.
Na visão da economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, esta melhora na classificação de risco do Brasil reflete um cenário mais positivo para a situação fiscal.
Segundo ela, o panorama segue um histórico de mudanças aplicadas nos últimos anos.
“As reformas implementavas a partir de 2016 foram fundamentais para a recuperação e estabilização da dívida. O teto de gastos contribuiu para a redução dos gastos públicos em relação ao PIB até 2022, incluindo a obtenção de superávit primário no último ano.”
Vitória ainda pontua que outras reformas setoriais também vem impulsionando o investimento privado e o crescimento do mercado de capitais local, que permite amplo financiamento doméstico e menor dependência do capital estrangeiro.
Felipe Salto, economista-chefe e sócio da Warren Rena e ex-secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, afirma que esta nova nota confirma suas avaliações, que têm sido positivas desde o início do ano a respeito do principal nó da economia brasileira: a questão fiscal.
“Ainda que o arcabouço não seja a última bolacha do pacote, os pilares da regra proposta afastam cenários pessimistas e ajudam a controlar o crescimento da dívida pública”, diz.
“Há, sim, o desafio do crescimento, mas o Ministro Fernando Haddad começou muito bem. Isso agora é reconhecido por uma importante agência de classificação de risco.”
De acordo com Salto, a reclassificação é um processo natural. Ele destaca que o quadro interno de inflação controlada e respeito às instituições e ao Banco Central moldam um cenário benigno.
O quadro externo também favorece o país, segundo o economista.
“O balanço de pagamento está num dos melhores momentos, com fluxos de boa qualidade entrando e câmbio apreciando. Me preocupa o rumo da reforma tributária, mas isso não seria suficiente para jogar água no chope da melhora da percepção de risco sobre a economia brasileira.”
O professor de economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Paulo Feldmann, ressalta que estas classificações são avaliações feitas do ponto de vista de banqueiros.
“A visão do banqueiro não corresponde exatamente à visão do que é bom para o desenvolvimento do país, e sim o que é bom para o retorno dos capitais”.
Feldmann pontua que a economia do Brasil melhorou e que as agências de rating até demoraram para reconhecer.
Segundo ele, a inflação está sob controle e estão sendo tomadas medidas para aumentar o consumo no país.
“A questão do desmatamento na Amazônia, que também era uma preocupação, também está controlado. Além disso, uma coisa que eles tinham muito medo era um descontrole dos gastos públicos. Foi importante que o governo levou adiante a proposta do arcabouço fiscal.”
PERCEPÇÃO DO MERCADO
Segundo a nota da Fitch, mesmo com afastamento da agenda econômica liberal do governo Lula, o mercado se mantém confiante com as decisões.
Para Vitória, apesar de anúncios de medidas que indicavam retrocesso na agenda de reformas, o governo não conseguiu espaço no Congresso para esse avanço, e o recuo e adoção de um tom mais pragmático, principalmente pela equipe econômica, tem prevalecido.
Por Diego Mendes e Iasmin Paiva
fonte: CNN
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